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Segunda Crônica #3:O livro, a mancha e o primeiro passo

Aquela segunda, mais parecia um prolongamento do domingo que a antecedeu.
Calma e serena, ela passou como um sopro do vento nas folhas que carregavam em si resquícios da chuva, que caiu vez ou outra naquele dia.
Contudo, meu único desejo era chegar em casa rapidamente. Acredito que minha velha bicicleta nunca tinha provado de velocidades tão altas...
Havia um bom motivo para eu levar minha velha companheira a tal extremo, alguns pensamentos precisam ser perpetuados e exteriorizá-los com uma caneta, acredito eu, ser a melhor maneira para isso.
Vale a pena guardar uma mágoa? Perguntava-me desde que uma situação me ocorreu e desde o primeiro momento acreditei que não.
Mágoas são cicatrizes de histórias passadas, que te impedem de por pontos finais em algo que já se acabou.
É como terminar de ler um livro e deixá-lo ali, sempre aberto. E pior, na pior parte!
É preciso virar a página, fechar o livro, carregar consigo seus personagens favoritos e saber também que aqueles aos quais não gostamos tanto também tem algo de bom...
Espero que a metáfora tinha sido boa, caso contrário leia novamente, ou então não. Só peço que não fiquei magoado por ter sido atraído a ler uma crônica ruim.
Não vale a pena guardar mágoa...

Ouvi hoje algo sobre não mancharmos o nosso espirito e automaticamente pensei em todos nós como uma tela branca e que cada sentimento possuía uma cor. Manchar-se seria algo inevitável, ainda mais nesse vida repleta de cores...
Vi a mágoa como uma mancha horrível! Uma mancha capaz de tirar a cor dos outros sentimentos e amargar até os doces mais raros...
Olhei ao meu redor e vi a mágoa manchar telas belíssimas...
Era uma pena, mas o meu sentir, por si só, não mudaria nada. Decido assim, eu mesmo, tirar aquela mancha daqueles que me rodeavam, carregando comigo, a certeza de que sempre é tempo.
Não seria fácil, mas toda caminhada começa com um primeiro passo...

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